Sidebar

Sidebar predefinida

José Leite Barbosa

José Leite BarbosaFaleceu a 13 de Março de 1972, aos 79 anos de idade, na sua residência, situada na freguesia de São Pedro, em Ponta Delgada, José Leite Barbosa, ilustre poeta, jornalista e dramaturgo nos Açores.

Nasceu a 22 de Janeiro de 1893 em São Paulo, no Brasil, e, filho de pais micaelenses, veio ainda em pequeno para a ilha de São Miguel, onde desde bem cedo despertou a sua veia teatral.

O início da sua vasta bibliografia deu-se com a peça galardoada «Órfãos da Ventura» (1916), a que se seguiu o livro «Átomos de Alma» (1917) e outras obras entre as quais «Na lama» e «Cravos e Goivos». Foi também um grande revisteiro, tendo publicado «Sem pés nem cabeça» em 1923, «Lanterna Mágica» em 1931, «No país da Graxa» em 1940, «Manta de Retalhos» em 1942, «Aqui, Ponta Delgada» em 1946, «Pé de Vento» em 1947, «Toma lá dá cá» em 1950, «Vai no Balão» em 1951, «Bota Abaixo» em 1960, «Tento na Bola» em 1963, «Pontos nos ii» e «Há Festa na Fajã» em 1965 e, por fim, «Fado Corrido» e «É de Gritos» em 1965, sendo que as suas revistas chegaram a ir aos Estados Unidos. Publicou ainda o volume de poesia «Coração as Mãos» e diversas comédias, entre as quais se destaca «Quem tem telhados de vidro», levada à cena em 1964 no Coliseu Micaelense. No dia 14 de Julho de 1966 comemorou os 50 anos desde a sua estreia literária, tendo sido, por esse motivo, homenageado em vários jornais.

Para além disso, foi chefe de redação e, durante 32 anos, diretor do semanário «A Ilha». Dirigiu também o Grupo Teatral da Casa do Povo da fajã de Baixo e a revista «Açores».

 

O Funeral

 

O seu funeral realizou-se no dia 13 pelas 16h30 da sua residência na freguesia de São Pedro, em Ponta Delgada, para o cemitério de São Joaquim. Presidiu o funeral o vigário de São Pedro, Sr. Padre José Baptista Ferreira e, à entrada do cemitério, foram organizados dois turnos para a carreta, assim constituídos:

1º – Dr. Lobato de Macedo, diretor do «Açoriano Oriental»; Manuel Ferreira, chefe da redação do «Correio dos Açores»; Luciano Mota Vieira, subdiretor do jornal «Açores»; e o Dr. Carlos Carreiro, diretor do «Diário dos Açores».

2º – Prof. Teotónio Machado de Andrade, chefe de redação de «A Vila»; Victor Cruz, Victor Pedroso e Manuel Inácio de Melo, dedicados colaboradores de «A Ilha» e, também, pai e amigos próximos, respetivamente.

Levou o luto o Sr. Eng.º Vaz do Rego, presidente da junta geral do distrito, seguindo-se o elogio fúnebre, feito pelo Sr. Dinis José da Silva que pronunciou as seguintes palavras:

Senhores:

Morreu o José Barbosa. Estamos aqui, em volta do seu ataúde, em piedosa homenagem ao homem e o intelectual, ao amigo de todos. Sim, de todos, por que o seu coração era grande generoso e bom.

Mas, senhores, naquele ataúde encontram-se, apenas, os despejos da morte. Mas a morte que extermina o corpo, não extermina o homem: – nem é o apagamento do espirito nem o aniquilamento da vida, pois que vida é espirito, e este não morre, não está dentro daquele ataúde.

José Barbosa, jornalista, poeta e homem de teatro, autor e actor, esse fica vivendo na recordação e na saudade de todos os que o conheceram, e, conhecendo-o, estimaram e admiraram a sua personalidade distinta, no seu génio poético e teatral e, culminando todos esses predictos, a sua bondade – sim, a bondade que aproxima o homem de Deus, seu criador.

Como poeta, que foi a sua mais vasta e profunda actividade, raros como ele terão sabido falar à alma do povo, desse povo a quem ele dedicou todos os anseios da sua alma de artista inspirado.

Os seus versos ficam aí na maviosidade genial que os fundiu. E fundiu-os com a brevidade com que as águas cantantes correm nas ribeiras ou nos riachos, e entoam a música dos anjos.

Tocado o seu sentimento por qualquer acontecimento, dos que infundem tristeza ou alegria, logo e sua alma de eleição se abria para deixar correr tudo o que lhe ia no coração, na sua riqueza de milionário, que tem a noção de que pode dar o que quiser, que essa riqueza jamais se extingue, senão quando a morte abate o grande vate!

Na sua atividade teatral tão rica de beleza e humanidade, ele foi uma fonte de puras alegrias.

O seu conhecimento da vida do povo, das suas suspirações e das suas necessidades, encontraram em José Barbosa o seu talentoso intérprete.

Quantas horas de profunda emoção e de alegrias ruidosas, o seu belo e grande espirito ofertou à sua terra e até às terras estranhas, por que José Barbosa possuía, um sentido de amor universal, e tinha a liberdade como o mais rico dos seus bens.

Não o bafejou a fortuna, e por isso, trabalhando sempre – até poucos dias antes da batalha em que ele teria de ser vencido – ele que viveu como um pobre e morreu pobre na santa pobreza!

E nunca, no decurso de mais de seis décadas – que tanto durou a nossa amizade, sem uma única sombra – eu nunca ouvi dos seus lábios uma palavra de revolta contra o destino que lhe fora tão avaro!…

Não era um católico praticante, ou melhor, um católico em obediência a todas as normas da Igreja, mas jamais deixou de ser um crente. Que o digam muitos dos seus versos, por vezes engolidos de tanta compunção religiosa.

E como não havia de ser assim, uma alma lavada como é a de José Barbosa, que, com a sua pobreza, nunca deixou de cultivar a caridade, que é o amor de Deus, e piedade pelos que caíram na indigência!

Sofria com a dor dos outros seus semelhantes, e nas suas revistas tão ricas de graça, expressas em cantigas e criticas que o tempo guardou e guardará, a par dessa graça que ele soube espalhar da vida, encontram-se diálogos e poesias de profunda emoção, de emoção até às lágrimas que corriam no decorrer das revistas – lagrimas que ele, no momento criador de se dar à vida chorou também!

O povo a que pertencias e a quem amavas, canta os teus versos, musicados por Evaristo de Sousa, um verdadeiro talento tão cedo roubado à vida – e por Ilídio Andrade, este vivo – graças a Deus.

E quando um homem escreve poesia tão pura como foi a que nos deixaste, esse homem não morre, por que fica vivendo nas suas obras pelo tempo dos tempos.

Meu querido José Barbosa e meus senhores: não é este o momento de fazer o inventário sobre a vida de jornalista, do poeta, prosador e homem do teatro. O momento é de compunção, de dor e já de saudade, por todos os que admiram o teu talento e as tuas virtudes.

Sinto-me feliz, querido amigo, por haver contribuído quase cem por cento, para que realizássemos um acto que te colocaria nos caminhos de Deus, sem empecilhos que o ensombrassem. Parece que Deus, que tudo prevê na vida dos seus filhos estava à espera que o consumasses, para te chamar ao seu divino convívio.

Tem a morte, disse-o um grande escritor, o poder de revelar o valor das suas prezas, a pujança das suas vítimas.

Não duvidemos, por isso que os veros ditames da justiça, de Deus acolherão a tua alma de Bom nos céus de onde a bondade desce à terra para ser luz das que por cá ficam.

Adeus amigo querido, descansa no seio de Deus eternamente.